O anticaminho que conduz a liberdade


O que é a vida para cada um de nós se não uma série de rotinas que estabelecemos com verdades, como metas, como motivos que nos faz continuar caminhando. Vejo as pessoas, imersas em seus mundos próprios, sequer se lembrando o que as fizeram chegar onde estão. Nos ambientes de trabalho pessoas rezam pela hora de acabar o expediente para em suas casas afundar-se nas estórias e no ópio das televisões, ou das bebidas, de alguma forma ou de outra buscando um refúgio na fantasia para as suas vidas, que parecem ter se tornado vazias e sem sentido.
O que leva cada um a estar onde está. Fazer-se essa pergunta em meio a nossa caminhada é de extrema necessidade, rever os nossos passos, todos eles, que nos levaram a ser o que somos hoje. Lembrar e retroceder na caminhada do tempo, recapitular os detalhes que nos trouxeram neste caminho até onde hoje estamos. Isso por certo não fará mudar um centímetro nas vidas de ninguém, mas fará tomar posse da consciência das forças que as guiaram até o lugar que hoje estão.
Consciência é uma palavra quase que esquecida na vida da maioria das pessoas que mais se comportam como robôs sociais do que como seres conscientes, senhores de seus próprios destinos. Cada um de nós somos reis e rainhas em nossa caminhada, ou pelo menos deveríamos ser. Mas alguma coisa na caminhada da maioria das pessoas deu errado, e assim, começaram a deixar serem guiadas por impulsos externos, apáticas, indecisas, levadas como uma folha abandonada ao vento. Não devemos ser assim, devemos ser marujos, senhores das velas, decidindo, cônscios de nossa caminhada a cada instante.
Rever é o primeiro passo para renascer. Pergunte as pessoas ao seu redor. Onde estão os velhos sonhos de criança? Onde estão os planos feitos com amigos na escola? Onde ficaram os segredos para o futuro? Em algum ponto do passado de cada uma das pessoas que vejo ao meu redor, percebo algo em comum, em algum ponto elas abandonaram-se aos ditames sociais que lhes eram impostos. Um fala que sequer sabe como veio parar neste emprego, outro fala que por sorte parou aqui. Mas de fato são iguais, algo os trouxe nesta caminhada e sequer lembram o que foi. E eu ainda pergunto: onde foram parar os seus sonhos de criança? Mas existe uma alentadora resposta a todos, sempre, sempre é tempo de recomeçar, de retomar o controle, de assumir as rédeas de sua vida.
Sei exatamente o que me trouxe onde hoje estou, e grande parte fora definida por minha inconsciência. Antes, por muito tempo andei assim, como um zumbi, como um robô guiado pelos ditames sociais, pelas forças externas de tudo que me cerca – uma hora parentes, outra amigos, outra forças que sequer sei reconhecer -, mas em comum, todas forças externas. Não podemos aceitar que forças externas guiem a nossa vida, isso nos leva a fraqueza, não saber o que fazemos aqui, porque aqui estamos, é assumir que não fizemos escolhas escutando o nosso coração, ou a nossa razão, mas fizemos escolhas apenas impelidos por forças outras, assumimos assim que nos entregamos, e a entrega é a senda da derrota da consciência.
Quando nascemos, estamos relativamente livres, libertos, desprendidos das amarras sociais. À medida que crescemos mais e mais fios são ligados à nossa energia total. A isso se dá o nome de socialização.  Quando estamos considerados socializados nos é dada a carta de cidadania plena, o salvo conduto social que nos diz que somos capazes de decidir por nós mesmos. Mas não é assim na verdade. Quando no mundo social nos é dado o salvo conduto, significa que já estamos doutrinados o suficiente para atender aos ditames sociais, e abdicar dos sonhos e das decisões pessoais, é como se quando pudéssemos decidir, já não temos capacidade de agir em contrariedade com o sistema determinado. Os sonhos de infância estão esquecidos e a responsabilidade que a vida nos impõe pesa sobre os ombros, fazendo com que deixemos ou protelemos os sonhos para buscar atingir as expectativas que as pessoas que nos cercam e o mundo social nos impõe sejam atendidas.
Esse é o destino e a atual situação da maioria das pessoas que nos cercam, estarem a protelar os sonhos para um futuro que a cada passo parece ficar mais distante. Só há uma forma de despertar, é identificar o passado, cada um deve reviver o passado, recapitular as experiências e entendendo o caminho que estão a seguir, rumar na direção oposta. Oposto ao mundo das obrigações está o mundo do coração. Difícil é tomar essa decisão, uma decisão que desencadeará certamente diversas outras, que em sequência guiarão o caminhante já desperto à sua verdadeira felicidade.
Na verdade, quem caminha na senda de seu verdadeiro querer, diferente das imposições sociais, encontra a felicidade em cada passo, em cada decisão. As decisões quando brotam do coração são como combustível para o fogo da felicidade, elas fazem com que as coisas mudem através do fogo, aquela velha frase hermética que diz: ignis nature renovate integra (pelo fogo a natureza se renova integralmente). As decisões mudarão o rumo de sua vida, libertarão uma a uma as amarras sociais que aprisionam a pessoa, mas para isso é preciso separar definitivamente, por meio da recapitulação, o que é seu e o que é de fora. Recapitular é o ato de separar a verdadeira consciência do entorpecimento social das repetições.
Os antigos feiticeiros acreditavam que todos tem, no momento do nascimento, instalada uma força estranha em seu campo energético, e essa força tem o intuito de mesclar-se com o todo energético, e controla-lo, de forma a gerar uma certa quantidade de energia para os seres de onde brotam essa instalação. Com o crescimento de uma criança no seio da sociedade, vários professores, já dominados por essa instalação, reproduzem o sistema para que essa instalação seja fortalecida dentro da criança, no processo conhecido como socialização. Socializar é oprimir a verdadeira mente em detrimento da mente alienígena, a mente social, que nos conduz as aberrações que tornam o homem antagônico a todos os seres da Terra. Porque destruímos o nosso berço de morada, porque matamos os seres que nos cerca, porque guerreamos, porque machucamos as pessoas, criticamos, apontamos, porque a contradição de viver oprimido, sendo que a todos é permitida a libertação a qualquer momento? Todas essas perguntas levam o foco a mente social.
Livrar-se dessa mente social é extremamente necessário, para conhecer-se verdadeiramente, para ser desperto entre os insones, para recuperar o domínio de si, da totalidade de cada um. O processo de despertar a mente verdadeira, e fazer minguar a mente social depende, como já falamos, inicialmente de rever a sua vida. Revendo a vida, e vendo para onde a mente social guiou o caminhante, é possível, olhando para o lado oposto, criar uma ruptura cognitiva, uma ruptura na linha de deixar-se levar para uma linha do decidir. O passo inicial é decidir libertar-se, e para libertar-se a pessoa precisa caminhar no oposto do que caminhou até hoje. Não é uma fórmula matemática, mas algo que pode parecer soar estranho inicialmente para quem lê.  O primeiro caminho para onde todos somos guiados, é o caminho que nos enfraquece, o que nos levará a continuar como rebanho. O mundo, e a força da instalação alienígena, nos guia a uma vida fraca, um tonal frágil, de alguma forma um destino que nos enfraquece não de forma a nos fazer morrer, mas de forma a estarmos sempre cansados, sem reserva energética para nada de novo em nossas vidas. A fraqueza para um pode ser à força de outro, de forma que não podemos falar em termos de generalizações. Para alguns, por exemplo, o sexo pé força, para outros é a perdição, não há fórmula absoluta. Para alguns a reclusão e o retiro é o caminho da libertação, porque antes a multidão foi o caminho da prisão. Esse mundo é composto dos antagonismos, e encima dos antagonismos encontramos a liberdade. Revendo o passado, o caminhante verifica para qual lado a mente social o guiou, e então deve imediatamente olhar para o outro lado, e desta forma, com a força antagônica criada, modificar o seu destino.
A morte social acontece aos poucos, aliás, pode acontecer aos poucos ou abruptamente, não existe uma fórmula pronta para isso. Para mim, por exemplo, foi assim: com o tempo vi amizades morrendo, rotinas morreram também, gostos, preferências morreram, uma parte de mim também morreu, tudo mudou, aos poucos fui ficando diferente, em todos os aspectos. O antigo morre e nasce o novo. Morreu a doença que me mataria, morreram os hábitos antigos, e no solo fértil da morte, nasceu meu novo ser.
No caminho de todos, a verdadeira luta é contra o ser que nos tangenciaram a ser. O implante alienígena nos faz querer seguir um caminho, um caminho que nos enfraquece. O velho nagual me falou em um sonho hoje que todos devem - uma hora ou outra na vida, quando sacudidos pelo espírito -, seguir o caminho inverso do que parece ser o caminho de seu destino (mas que na verdade é o caminho da mente alienígena, o caminho que é bom apenas para o sistema, e não para o indivíduo). Seguir esse caminho inverso é criar uma força para o outro lado, que faz com que, com o tempo e a persistência, faça romper a instalação, e então, só então, o ser é livre completamente, isso é perder a forma humana, perder a instalação alienígena com uma força oposta, e ser efetivamente liberto.
Vejam os exemplos: Carlos era um dogmático, estudante das normas cultas, queria o amor e ser aceito socialmente. Ele teve que ser colocado no caminho oposto. O nagual lhe direcionou fisicamente para ser um mago, um feiticeiro, um homem de conduta contrária à sociedade em que vivia, ao mundo acadêmico em que estava inserido, sem o amor da forma possessiva com a qual ele estava acostumado, sem a aceitação social que ele queria no meio acadêmico. Isso foi à força antagônica dele, o seu ponto de ruptura.
Eu era um maluco beleza, doido varrido, entregue ao momento, deixe as coisas acontecer. Nunca gostei de estudar, gostava apenas de sexo, drogas, bebidas, diversão, o dinheiro me caia nas mãos aos rodos, e eu vivia uma vida boêmia, não me preocupava com nada, era um egocêntrico burro e egoísta. Não tive um nagual no começo, o espírito me explicou, com sua força da morte, que eu deveria seguir o caminho oposto. Então virei um estudioso, um amante da saúde, abstêmio, me alimentando com perfeição, sem farras, sem orgias, um pai de família, me rio que me mijo deste destino como é, e como cheguei onde estou. Nunca consegui estudar, não gostava, livros eram sempre um estorvo, hoje leio como um nerd, tenho títulos acadêmicos e todas essas besteiras sociais que de nada valem, mas esse é meu caminho oposto, que se seguido assim com firmeza e disciplina, afastará a mente alienígena, e então encontrarei a verdadeira liberdade, esse foi meu caminho para a ruptura que eu necessitava.
Vejam o nagual Julian, era um bêbado, conquistador, bandoleiro do sexo, irresponsável, não sabia conduzir a sua vida, tanto que quando foi encontrado estava a beira da morte, sem mesmo saber. Então o nagual Elias o encontrou, em nome do espírito, guiado por ele foi traçado o seu anticaminho, ele virou responsável por um grupo, líder que os conduziria a liberdade, mudou a sua forma de lidar com a vida, e para espantar a morte estava atento a todo tempo, apesar de parecer o contrário, tudo em sua vida fazia sentido, e era ele cheio até as bordas da responsabilidade da liberdade.
Don Juan queria apenas ser um pai de família, ter uma vida estável, ser respeitado, ter posses, dinheiro, ser um homem da sociedade. Conseguiu isso, mas também foi morto em sua velha vida pelo espírito, aos poucos, quando seguia a vida da mente social, foi minguando a sua energia. Ele então teve que ser reconduzido a outro lado, começou a ser guiado pelo nagual Julian e o nagual Elias, que guiados pelo espírito o transformou em um estudioso, um erudito, um homem de conhecimento, desapegado, líder de um grupo, um guerreiro do abstrato. Este foi seu anticaminho.
La Gorda também era obcecada por comidas, preguiçosa, indolente. Seu anticaminho foi à disciplina, a saúde, o vigor, com isso ela rompeu a sua forma humana, e assim tornou-se livre.
Assim as histórias se repetiriam com muitos, e ainda hoje se repetem, e se repetirão para quem quiser aceitar a responsabilidade de ser o guia de sua vida, todos tem que ter uma anticaminhada, quando descobrem o que não são, o que é a mente alienígena e caminham no oposto deste caminho, e o fazendo, mantendo a disciplina, rompem, quebram a forma humana, e transforma-se em um ser sem forma, um ser livre, apenas revestido na intenção do próprio espírito, a sua vontade torna-se a vontade do próprio universo, o homem consciente, desperto, caminhando nas pegadas traçadas por ele, torna-se Deus em si.
Essa é a anticaminhada que todos devemos fazer para nos libertarmos, é a morte de todo o velho que nos deixa decrépitos, fracos, indolentes, preguiçosos, acomodados e inconscientes. Seguindo a anticaminhada, que não é fácil, a nossa energia aos poucos é restaurada, as doenças se vão, a juventude retorna, um vigor outro se faz. Os caminhos serão outros, mas haverá beleza em cada passo, e consciência também. Claro, vai ser apenas uma caminhada dentre tantas, infinitas possíveis, mas vai ser uma caminhada de luz, consciente, transbordando de alegria em cada pisar, independente do chegar.
Revejam todos os passos de seu passado, e descubram, cada um, a anticaminhada que o levará a vitória definitiva, de seu verdadeiro eu interior, que anseia por guiar-te a verdadeira liberdade.

Comentários

  1. Hermano mais uma vez tocastes em uma ferida da humanidade. Vejo as pessoas. Continuam como se nada estivesse acontecendo a seu redor. Estamoa acabando com a Terras, as abelhas estão morrendo mas tudo bem, quem ganhou o jogo o Flamengo ou o Corintias, isso sim importa, é discutido com animo em cada canto, nossa visão está turva perante as armadilhas que no s impedem a evolução.
    Kawak

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  2. Buenos dias Hermanos
    Quem assiste muito a TV pode ver que estamos prisioneiros do medo, um mal que aflige as pessoas. A TV com seu sensacionalismo, fica batendo na mesma tecla, inctuindo na cabeçla das pessoas a violencia eo medo inclusive dando dicas, de como assaltar e outras cocitas más....
    Kawak 08:08 03/12/2013

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  3. Mandela passou trinta anos na prisão e agiu durnate toda a sua vida como um guerreiro seguijndo sempre seu Intento:
    Uma Africa unida.
    Kawak 07:40 06/12/2013

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  4. Testemunho do meu anticaminho: sempre fui anarquista, tinha ódio da burguesia, dos seus costumes, do dinheiro, aquele esquema de família, etc A simples ideia de usar camisa, quanto mais para dentro, me era intragável. Hoje tenho família, trabalho como engenheiro numa grande empresa, tenho casa boa, carro bom, e todo o kit-burguesia. E dou risada disso tudo, tanto da minha camisa pra dentro quanto do meu antigo ódio, porque odiar é uma forma de fortalecer aquilo que você odeia. Não tenho apego a nada e viveria tranquilamente como um mendigo a partir de agora. Até uma morte da minha filha não me abalaria, estou preparado para qualquer coisa externa a mim, pois sei que o importante é o modo como eu vivo, meu aumento de consciência, minha fuga do "pensamentus operandis" do mundo, encontrar os sussurros do meu coração, enfim, ser um guerreiro impecável, vencer dentro de mim, e poder rir desse idiota que sou.
    Zaion - 21/12/2013 às 11:52 (aliás, uma ótima esse negócio de data e hora, nos liberta! Obrigado, Kawak)

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  5. Interessantíssimo o detalhe da hora!!! Até nisso a máquina quer nos dominar!! Despertar para os pequenos detalhes,que nos vem em forma de presságios!! Maravilhoso é o anticaminho! Quando nosso amigo Vento falava da impecabilidade era muito difícil,longe, de entender! Lendo tantas contribuições neste espaço sagrado, minha jornada de guerreira fica leve, em meio a tanta batalhas.....há quatro anos foi que senti forte o Sopro do Espirito onde literalmente balancei mas não cai!! Começou a luta contra a " síndrome de meniere"...... Foi em consequência de uma depressão camuflada pela " cura" de 15 anos que, em 2010, iniciou o sussurro do vento a me trazer aqui e agora exatamente onde estou e fazendo o que estou!! Sou grata ao Grande Mistério pela oportunidade em despertar e andar no anticaminho!! Digo, guerreiros, não é fácil vencer a mim mesma, mas hj já me sinto mais forte e muito mais consciente! Ainda tenho muito a aprender nesse mundo dos naguais, mas tenho sede!! E é esse o segredo: não beber água do cantil de uma vez só! Deixar um pouco para mais tarde,será necessário!! Afinal a jornada é longa! Saudações a todos...Gaivota Menina: 25/01/13 as15h25

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